[texto de Moema Ameom]
Só posso chamar de meu aquele que me escolheu. Aqueles que se escolheram in.mim: Meus filhos.
Por (in)evolução da vida, posso também dizer que estão ligados à mim, aqueles que foram atraídos por meus filhos: genro e nora.
Muito meu porem torna-se aquela que escolheu quem me escolheu: neta.
Representando a repetição da força da atração, a neta religa-me ao Tao, intensificando a consciência.
Assim sendo, minha estrela, no momento tem 5 pontas apenas: meus filhos Victor e Roberta, meu genro Rodrigo, minha nora Diana e minha neta Lavínia.
Sendo um ser ciente, sei que o meu é do Holo e a ele pertence, mas, com estas pontas, posso escrever minha história visceral (física) e, por conseqüência, energética (espiritual).
São partes do meu ser que convivem in.mim por escolha própria, ou seja, pela verdade do livre arbítrio (energia vital).
Sei que durante toda a minha existência de 60 anos in.matéria, sempre tive muita necessidade de somar e multiplicar pessoas a minha volta. O medo de ficar só era meu companheiro permanente. Talvez devido ao fato de ouvir com muita freqüência que, sendo eu filha única, tinha que aprender a me virar sozinha na vida.
Isto sempre me deixava a sensação de fragilidade interna e eu não sabia explicar por que. Ficava insegura por demais só em pensar que teria que andar pela vida sem pedir ajuda, sem compartilhar, sem trocar com ninguém, pelo simples fato de que não tinha irmãos.
Comecei então a amealhar companhias, transformando todos a minha volta em irmãos e filhos. Construí um muro de mentiras e acreditei que não era ilusão. Precisava sentir-me protegida.
Não fazia nenhuma distinção de raça, credo, cor ou forma. Queria ser parente direto do Universo.
Faltava-me o senso familiar mais amplo, algo que, enquanto núcleo, parte do conhecimento das tribos materna e paterna.
Para conquistar este sentir, comecei a querer ajudar todos a minha volta com a pretensão de compartilhar com muitos, meus fatos e atos. Era como se fizesse uma barganha: eu cuido de você e você fica ao meu lado (sem dar espaço para que cuidassem de mim).
Mestrava com sede de aprender e absorvia muito mais do que dava, pelo simples fato de saber que era eu a aprendiz. A curiosidade era consciente. A vontade de desvendar o mistério existia nos ossos.Não era uma troca honesta. Nem digna.
Este movimento nunca me agradava nem satisfazia pois distanciava-me cada vez mais de mim, aumentando a tão alardeada solidão. A razão recaia sempre sobre a frase da infância. O certo morava lá; eu era a errada.
A vontade de provar o acerto que captava nas sensações, gerava uma ânsia imensa, sufocando aqueles que tanto queria ao meu lado. Construía relações e as destruía.
Gerei com isso uma guerra enorme dentro de mim e a cada vez que um laço de união se desmanchava, ficava a percepção do fracasso – (in) potência - que fortalecia a famosa frase sempre muito bem exemplificada no cotidiano.
Meu filho dizia: “La se foi mais um (a) que a mamãe transformou em sapo.”
Sim. Recebia príncipes (as) e transformava em sapos (as).
Com a visão restrita do Transtorno Obsessivo Compulsivo, teimava em dar aos outros o que servia para mim: a verdade da visceralidade.
Descobri um dia que a necessidade de ter pessoas guerreando comigo era um vício; o desejo incontrolável de conviver me tornava dependente da química humana.
“
A emoção da batalha costuma ser um vício forte e letal, pois a guerra é uma droga” Chris Hedges
Resolvi curar-me deste vício e entreguei-me aos processos da abstinência. Mergulhei na mais profunda depressão. Deixei-me afundar no lado escuro do meu ser onde só conseguia ver solidão.
Procurei me afastar até dos meus filhos, mas minha filha não deixou. Colou em mim, sem me tolher a liberdade. Foi minha mãe; recriou, espelhando a mestra.
Ajudou-me a cuidar do irmão que, estando no mesmo barco que eu, andava a deriva no caos das emoções incontroladas.
No meu delírio maior, tive a oportunidade de construir Moema`s Land onde eu teria todas as possibilidades de estar e cuidar de muitas pessoas. Ainda bem que sempre fui boa em olhar para os outros, o que me possibilitou captar a megalomania.
Seria minha tribo; minha taba. Um lugar de trabalho para orientar e criar um mundo de ressonância.
Como fazer com as vozes de comando assimiladas que deturpavam minha comunicação?
Mal sabia eu, naquele momento, que este mundo já existia e que eu andava a margem dele querendo criá-lo para mim.
Grande prepotência! Imensa arrogância!
Falta de ar total.
Hoje, ao olhar para traz vejo que com esta brincadeira, amealhei raivas, mágoas, tristezas, ódios, ciúmes, invejas e todas as emanações que os seres humanos sabem destilar quando atacados pela falta ou excesso de amor. Defesa necessária e valiosa também utilizada por mim.
Não posso dizer que não deixei sementes bem plantadas em seres que, de alguma forma, captaram a verdadeira intensão, mas, o percentual foi muito baixo perto das oportunidades que me foram oferecidas. Perdi muito mais do que ganhei, porem, arriscando-me a perder, ganhei o momento de hoje e este, além de não ter preço, passa de 1000%.
O mais importante do meu viver é a conquista da consciência de que eu não estava fora de mim quando queria ter muitas pessoas comigo.
Aprendi que sou partícula de um todo que se manifesta in.mim.
Estou plenamente interligada a esta totalidade que me conduz através do movimento vital, unificando minha essência a esta energia que me orienta.
Consigo enxergar com nitidez que o desejo impulsionador maior era não repetir com meus filhos o exemplo dado por minha mãe. Isto mesmo bem antes de ser mãe.
Ele veio comigo. Posso talvez denominar de missão.
Demorei a apreender porem, que o todo se encontra no um; no indivíduo. Estando com o uno estou com o Holo. E este uno pode ser apenas eu.
No meu caso, fui escolhida por dois. Sou três e a maior graça alcançada, foi ter conseguido manter esta relação fortalecida apesar de todos os desencontros e doídos confrontos.
Neste momento posso dizer que sou 5.
Com estas 5 pontas girando ao meu redor, dou início a um caminhar firme pelas estradas que me aguardam, levando como guia o aprendizado colhido: ser mãe e avó, utilizando para tal meus processos individuais.
Estruturando os ossos segue a eterna gratidão por todos aqueles que estiveram ao meu lado mesmo sem merecerem os pesares do pesar.
Sem mais brigar,
Obrigada.
Moema Ameom
Itaipuaçu,24/02/2010